.dos quereres.

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Queria te escrever uma carta, daquelas longas e apaixonadas. Daquelas cartas que tu espera que não tenham fim, com imensas frases que se concretizam no olhar.

Queria escrever também um bilhetinho de amor. Sabe aqueles que tu acha sem querer na carteira e passa o dia todo sorrindo por qualquer besteira que aconteça?

Queria deixar meus lábios no teu espelho antes de tu acordar. Aquele beijo rosado de quem se arrumou escondido pra não incomodar.

Queria me acomodar nos teus braços, me encaixar nas tuas pernas e só ouvir teu ronronar. Sabe aquelas respirações fortes de quem está cansado de amar?


Queria perder meu esmalte vermelho nas tuas costas, devagarinho que é pra não marcar, mas o suficiente pra tu olhar durante o dia e sorrir.


Queria era amassar a camisa, rasgar a toalha e queimar a mão só pra te fazer um jantar. Sabe aqueles de dançar cortando legumes enquanto beberica um vinho e um beijo?

Queria deitar na grama do domingo e contar da infância que não passamos juntos, dos problemas que não enfrentamos e dos amores que nos desfizemos.

Queria mesmo era ter tua vida na minha, daquelas longas e apaixonadas. Sabe aquelas vidas que tu espera que não tenham fim? Daquelas com imensas frases que se escrevem apenas com um olhar.

Sim, no final das contas era só isso que eu queria.
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.So now I'm going.

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Lá vinha ela com a bacia cheia de biscoitos de leite e uma jarra de suco.
Sentava na sua cadeira a espera de todas os olhares infantis.
Tricotava em silêncio lembranças que aqueciam nossas noites de inverno.
Recebia beijos e trocava-os por sorrisos.
Contava dos tempos que navios traziam sonhos, que piratas não desciam em madeira parada.
Deixava-nos por horas distraídos com um mundo irreal, antigo e utópico.
Com cavaleiros, princesas e tigres voadores.
Com fadas, camelos e janelas coloridas.
Dizia dos amores que começavam uma guerra.
E das guerras que acabavam por amor.
Eram tantas outras dores que a gente não sabia.
Eram tantas outras histórias que nos preenchiam.
A avó de todos, ao balançar seus cabelos brancos no fim de tarde, criava pessoas famintas de aventura em lugares distantes e terras inexploradas.
E ao se despedir, nos afagava:
 Não deixem a distância diminuir o sorriso. 
Há sempre uma felicidade escondida em cada suspiro de saudade.
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.I know I screwed up. But we can still make it.

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dói como carne rasgada
arde como fogo inesperado
amarga como amanhecer nas coxilhas
escurece como velas finadas
corta como metal enferrujado
quebra como promessas da madrugada
e é só vontade
e é só saudade
e e só falta de coragem
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4.

.meu amor é do tamanho do guardanapo.

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É assim que acontece sempre.
Tu entra num bar, pede uma cerveja, comida ou só o cardápio.
Qualquer uma das tuas opções, sem tu perceber, tu precisará de um guardanapo.
Seja para limpar o batom do copo, a boca de sal ou a mesa daquelas malditas gotículas que se acumulam embaixo da garrafa formando uma pocinha de saudade.
Tu pode até usá-lo para escrever sobre paixões - ou ele mesmo - mas, em algum momento, tu precisará de um guardanapo.
Assim é o amor. Exatamente assim. Sem mais. Sem menos. Assim.
Tu vai para a vida, trabalha, ganha dinheiro, acha tempo para a família, compra roupas, vai a festas, estuda coisas que ninguém entende.
E entre todas essas tarefas, essas experiências e esses suspiros, sempre, e a qualquer momento - e pelo motivo mais bobo - tu vai precisar de amor.
Ou de um guardanapo.
Para falar do amor que está faltando na tua mesa.
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