. da decrescente estupidez humana.




.
ficou quase hora reescrevendo frases 
nada muito significativo
só pra puxar assunto
pra falar alguma besteira qualquer 
pra se surpreender com uma resposta
que esperava vir sem perguntas
sem bobices de infância
ou maquiagem noturna

ficou quase dia realinhando idéias
que viriam do outro lado
sem roupagem elaborada
sem sorriso forçado
talvez a inocência de um beijo
o calor de um abraço
mas o entendimento de tudo 

resposta nasceu desnecessária
tardou a existir
desistiu-se
sequer saiu do olhar
nem ao menos disfarçada
e ela então cansou de esperar

sentindo-se ridícula 
outra vez - mais uma vez - como sempre - de novo
resolveu vomitar verdades
que ficam mais fáceis com a ajuda da vodka
mesmo ofuscando a delicadeza do corpo

percebeu que nada faria diferença 
já havia dito o que precisava
mesmo sem nada falar
apenas naquele esperar

perdeu-se nas palavras não escritas
não dizendo o que queria sentir
correu de volta pra a escuridão

recolocou o chapéu de plumas loucas
e caminhou em direção ao mar

ficou quase vida enganando a insensatez 
.

.adeus.

.
não posso ter presentes sem ter teu coração
junto à rara madrepérola deixou uma carta
deixo contigo meus brincos, meus sorrisos e meu desejo
sabia que nunca mais usaria nada que o trouxesse aos olhos
faça deles o que quiseres.. para sempre
seus sonhos daquele passado eram mais necessários
só levo o pequeno sapato vermelho pois preciso andar
sua lembrança dos dias nas nuvens
fechei a janela para o sol não te alertar
a volúpia das quatro inesquecíveis paredes
não saberia te dizer adeus
isso ela não abriria mão mesmo se ele pedisse
roubei-te um último beijo apenas
e junto a essas poucas lágrimas que pode carregar
sei que não irás notar
encheu o bolso com a saudade que nunca existiu
tua
.








.4d.

.da dor.

.
dói tanto que me curvo
enxugo as lágrimas com a manga da camisa
cheiro teu suor que ainda está grudado em mim

dói tanto que me deito
juro gritos e insanidades alucinadas
afogo tudo que deixei de te dizer

dói tanto que me acabo
perco a força e as palavras de eternidade
e só penso em nunca mais te sentir assim
.

.home sweet home.

.
ele sussura antes de dormir home is where the heart is
finjo sorriso com um beijo apertado
disfarço as lágrimas da inexistente despedida
não quero esquecer de nada e me perco

não durmo para ficar recontando as estrelas de seu braço
brinco com os dedos que conhecem toda minha constelação
faço carinhos ouvindo um leve ronronar
não quero perder nada e me esqueço

a mala perto da porta anuncia o fim
disfarço saudade com a luz do sol
esqueço do que quero e choro

fecho a porta e penso i'm a homeless now
.


. a nova dança das borboletas.

.
Ela tinha medo de dizer a verdade.
Percebeu que tudo que era ilusão foi quebrado.
Apavorada, deixou a música tocar.
Diminuiu as luzes e aumentou o som.
Queria festa.
Viu o gelo derretendo aos poucos.
Junto ao copo, largou a razão em algum canto.
A solidão se perdeu na rua.
E ela reencontrou as borboletas naquele travesseiro.
.

.solidão.

.

e dentre todos, meu maior medo é não mais sentir saudade

.

.o que somos.

.
nunca estendeste
que nossa maior diferença era sermos iguais

não sou tuas outras
não sou teus amigos
sou tu
teu espelho
teu reflexo
tua vontade de ser
agora e ontem e pra sempre

não adianta disfarçar
sempre saberei o que tentas esconder de ti
.







|madrugada + zero de conduta + solidão + saudade|

.suspiro.

.
hoje a saudade veio de surpresa
nem tocou a campainha e sentou-se à mesa

tomou meu copo de cerveja num gole só
disse umas bobagens e saiu arrastando os chinelos

e agora, no final da noite, percebo
que ela roubou todas as palavras que guardei pra ti
.