.. we chose to be together ..

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ninguem soube mas essa noite ela chorou
chorou de saudade
chorou de amor
chorou de solidão
chorou de tudo que sentia

ninguem soube mas essa noite ela sofreu
sofreu daquele aperto no peito
sofreu daquela cama vazia
sofreu daquele maldito futuro
sofreu daquela falta que só ele faz


ninguem soube mas essa noite ela desistiu
desistiu de poder o ter
desistiu de amar
desistiu de tudo ou talvez só
desistiu de respirar.

How did I get so sad?

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lá foi ela caminhar na chuva
apenas pra disfarçar as provas da saudade
.

. you're my awesome .

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foram dos teus olhos mareados de uma saudade que não mais me pertencia que surgiram estas ondas tsunamicas nos meus lábios
foi teu beijo matutino que despertou aquela criança descobridora dos pequenos mundos das pétalas de coloridas flores que outrora brindava chá com sapos e princesas
foram tuas mãos de castanhola de despedida que roubaram o silêncio deste corpo calmo pousado no jardim de inverno a espera doutro sol primaveril
foram teus passos esquivos ao anoitecer que me guiaram para o atalho daquele reino que dantes fechou os portões no meio da derradeira sangrenta batalha
foram tuas sussurradas palavras que me fizeram acreditar que flores podem dançar mesmo depois que o sol vai embora
e foram essas tuas malditas palavras com as quais aprendi a duvidar que flores não gostam dos nublados dias de outono
pois foi tu, ó cruel realidade tardia, tu que mal traduziste minúsculos sentimentos perdidos que não poderiam renascer agora
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4d.

.dos quereres.

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Queria te escrever uma carta, daquelas longas e apaixonadas. Daquelas cartas que tu espera que não tenham fim, com imensas frases que se concretizam no olhar.

Queria escrever também um bilhetinho de amor. Sabe aqueles que tu acha sem querer na carteira e passa o dia todo sorrindo por qualquer besteira que aconteça?

Queria deixar meus lábios no teu espelho antes de tu acordar. Aquele beijo rosado de quem se arrumou escondido pra não incomodar.

Queria me acomodar nos teus braços, me encaixar nas tuas pernas e só ouvir teu ronronar. Sabe aquelas respirações fortes de quem está cansado de amar?


Queria perder meu esmalte vermelho nas tuas costas, devagarinho que é pra não marcar, mas o suficiente pra tu olhar durante o dia e sorrir.


Queria era amassar a camisa, rasgar a toalha e queimar a mão só pra te fazer um jantar. Sabe aqueles de dançar cortando legumes enquanto beberica um vinho e um beijo?

Queria deitar na grama do domingo e contar da infância que não passamos juntos, dos problemas que não enfrentamos e dos amores que nos desfizemos.

Queria mesmo era ter tua vida na minha, daquelas longas e apaixonadas. Sabe aquelas vidas que tu espera que não tenham fim? Daquelas com imensas frases que se escrevem apenas com um olhar.

Sim, no final das contas era só isso que eu queria.
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.So now I'm going.

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Lá vinha ela com a bacia cheia de biscoitos de leite e uma jarra de suco.
Sentava na sua cadeira a espera de todas os olhares infantis.
Tricotava em silêncio lembranças que aqueciam nossas noites de inverno.
Recebia beijos e trocava-os por sorrisos.
Contava dos tempos que navios traziam sonhos, que piratas não desciam em madeira parada.
Deixava-nos por horas distraídos com um mundo irreal, antigo e utópico.
Com cavaleiros, princesas e tigres voadores.
Com fadas, camelos e janelas coloridas.
Dizia dos amores que começavam uma guerra.
E das guerras que acabavam por amor.
Eram tantas outras dores que a gente não sabia.
Eram tantas outras histórias que nos preenchiam.
A avó de todos, ao balançar seus cabelos brancos no fim de tarde, criava pessoas famintas de aventura em lugares distantes e terras inexploradas.
E ao se despedir, nos afagava:
 Não deixem a distância diminuir o sorriso. 
Há sempre uma felicidade escondida em cada suspiro de saudade.
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.I know I screwed up. But we can still make it.

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dói como carne rasgada
arde como fogo inesperado
amarga como amanhecer nas coxilhas
escurece como velas finadas
corta como metal enferrujado
quebra como promessas da madrugada
e é só vontade
e é só saudade
e e só falta de coragem
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4.

.meu amor é do tamanho do guardanapo.

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É assim que acontece sempre.
Tu entra num bar, pede uma cerveja, comida ou só o cardápio.
Qualquer uma das tuas opções, sem tu perceber, tu precisará de um guardanapo.
Seja para limpar o batom do copo, a boca de sal ou a mesa daquelas malditas gotículas que se acumulam embaixo da garrafa formando uma pocinha de saudade.
Tu pode até usá-lo para escrever sobre paixões - ou ele mesmo - mas, em algum momento, tu precisará de um guardanapo.
Assim é o amor. Exatamente assim. Sem mais. Sem menos. Assim.
Tu vai para a vida, trabalha, ganha dinheiro, acha tempo para a família, compra roupas, vai a festas, estuda coisas que ninguém entende.
E entre todas essas tarefas, essas experiências e esses suspiros, sempre, e a qualquer momento - e pelo motivo mais bobo - tu vai precisar de amor.
Ou de um guardanapo.
Para falar do amor que está faltando na tua mesa.
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/030611/Finegans/

.i can accept that we're going nowhere.

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de repente veio aquele vento gélido pela fresta da parede
como um empurrão de um momento querendo ser lembrado
como a ponta da saia que a menina rodou para ser vista
como o lenço pousando no chão para sorrir uma gentileza
e quem sabe este vento vire brisa até que pare de soprar?
como as carícias que já foram beijos?
como a saudade que já foi dor?
como o amor que já fui eu?
mas naquela noite de inverno, ela decidiu apenas não esperar
como esperou pela tempestade
como esperou pelo sol
como esperou por uma canção
então abriu a porta e saiu sem saber dizer seu destino
como nunca soube dizer o que deveria
como nunca soube dizer o que poderia
como nunca soube dizer adeus
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.how did I get so sad? - 2nd act.

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há palavras que não cabem no peito vazio
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.how did I get so sad?.

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riso
choro
cicatriz
riso
gozo
aprendiz

viver assim é nunca viver assim

corrida
vento
nado
corrida
valsa
estrado

estar contigo é sempre estar só

comigo
semtigo
umbigo
comigo
castigo
mendigo

roubas meu sorriso como minha lucidez
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.. we fell in love, and the next day he was gone forever ..

Ontem ela me chamou para um café. 
Disse que precisava me contar algo urgente. 
Chegou quase correndo, me deu um beijo afoito, pediu um expresso duplo e guspiu:
- Me apaixonei.
ISSO??? Como assim uma paixão é urgente?
- Precisava desabafar. Não agentava mais isso explodindo dentro de mim. Consumindo meus sorrisos e enxugando minhas lágrimas. Meu peito tava apertado. Minha garganta tava trancada! 
Tomou um gole do café, comeu o amanteigado e suspirou aliviada.
Meio sem saber como agir, pedi detalhes.
- Pois então. Conheci ele num forró.
Forró? Como assim, tu num forró?
- É, era aniversário do Pedro, lembra do Pedro, da Uni?
Sim, lembro. Aqueles cachinhos amarelos nunca me convenceram que pertenciam àquela cabeça. Continua.
- Então fui sozinha, bebi, conversei com conhecidos e dancei com desconhecidos. No meio daquela gente feliz e suada, ele apareceu. Todo lindo. Todo cheiroso. Todo solitário. Todo pra mim. Tá, ele também tava suado. E dai? Puxei assunto e não conseguimos mais parar de falar. Parecia que ele era tu. 
À medida que ela ia falando, seus olhos se arregalavam. Um sorriso enorme grudou em seus lábios e não saiu dali nem quando ela bebericava o café ou procurava coisas que não precisava na bolsa. Contou tudo meio desordenadamente. Seus braços frenéticos poderiam destruir ou abraçar o mundo. A paixão não segue uma linha temporal, não é?
- Não! E parece que o final de semana foi um dia só! Uma hora! Um minuto! Nunca tinha me acontecido isso, tu me conhece! Sabe da efemeridade dos meus sentimentos mais do que ninguém! Efemeridade existe?
Não importa. O que nos importa é que tu inventou um sentimento novo ai dentro de ti!
- Não sei como vivi tanto tempo com os pés no chão! Essa sensação de não saber o que fazer mais pra se aproximar, de querer respirar o mesmo ar ao mesmo tempo, dormir de cansaço mas logo querer acordar. INCRÍVEL!
E gargalhou de um jeito único, que só ela conseguia gargalhar. 
Ecoava aquela felicidade no meu peito e nas paredes do bar. 
Senti a inocência de uma criança vendo o mar pela primeira vez. 
- Passamos dois dias perfeitos! Estou em transe ainda! Acho que conheci o amor da minha vida.
Eu apenas sorri. Minha felicidade não cabia em palavras.
- Ele era o cara que eu queria entrar de mão dada em casa e apresentar pros meus pais. Por ele eu casava na igreja de vestido longo! Branco até! Teria filhos e esqueceria de todos os meus planos. Acho que nunca mais vou sentir algo assim.
Hã? Era? Nunca mais? Teria? O que tu fez, guria?
- Domingo de noite expulsei ele da minha cama. Disse pra ele se vestir e sair da minha vida. Ele até pediu explicações, chorou, emburrou, fez cena. Mas não dei o braço a torcer. Adeus, eu disse.
Ele fez alguma coisa?
- Sim, claro que fez!!! Ele foi perfeito! Eu não estou acostumada a ser feliz. E outra! Vai que ele me ame assim como eu o amo? Vai que ele também faça tudo por mim e que essa paixão só aumente a cada dia até o fim dos nossos anos? Seríamos o casal mais.. mais.. mais..
Foi diminuindo o tom da voz até ficar apenas um sorriso. 
Olhou para o fundo da xícara e tomou o último gole.
- Eu não sei se saberia viver assim. 

.I'm afraid to say I love you.

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te sonhei nos meus sonhos mais uma vez
me vejo na tua vida como se ela fosse a minha
redesenhei um sorriso num rosto que conheço de cor
me pintei de uma alegria que só existe por ti

te abracei teus braços que sempre me levam ao céu
me grudei no teu corpo pro cheiro não sair mais de nós
te sufoquei com todos os beijos que escondi dos outros

me amas dum amor que não é meu
te engano dum amor que só guardo pra ti
me faz sorrir apenas por querer me enganar
te roubo aos poucos que é pra tu nao me acostumar
.

.you are where i can be my self - 2nd act.

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e lá vem a vida, mais uma vez
me dando tudo que eu sempre quis 
no momento que não tenho mãos para segurar
.

. quatro e vinte e quatro .

.
na sombra da laranjeira recostada na velha cadeira de lona
ela lia um romance francês
clichê mas francês
as folhas amareladas como o casaco choravam dramas maquiados
os olhos ficavam escondidos
como o sol de outono atrás das espessas nuvens de tempestade
passava a ponta do dedo na ponta da língua na ponta da página
secretamente observava os netos
em volta, em silêncio, em uma concentração matemática
histórias não exigem menos do que isso dizia
uma lembrança surgia a cada dúvida e fazia todos levantarem a atenção
olhos fixos e coração atento a cada nova descoberta do passado
sorrisos finos
e no fim do capítulo anterior ao anoitecer
a avó passava uma lição ao rei que se despedia
nunca inspire alguém se não puder fazê-lo transpirar
.

.cotidiano n° 23.

.
com as minhas dores eu já nem me importo
preocupo-me com os rasgos que farei no teu olhar
com as marcas que minhas unhas deixarão no teu desejo
com a mordida que ficará nessa saudade
e com teu sorriso matinal que nunca mais cicatrizará
.

. das pequenas ilusões .

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hoje me peguei roubando tuas palavras
juntei delicadas frases com sentimentos escondidos
me agarrei a alguns parágrafos e não consegui me desgrudar
catei amores distantes e olhares perdidos
rasguei páginas pra pegar os beijos que sonhei
me prendi naquelas dores que ainda não choraram
abracei todos os cheiros e juntei-os à lua
não sei quantas lembranças coloquei nos meus bolsos
perdi a conta de todas as saudades que me apossei 
recriei a canção que dedilharias para mim
se alguma dessas palavras fosse minha
.

.a pequena ladra de sorrisos.

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era uma lembrança tão enrugada quanto sua vó
que sentada na cadeira de balanço fazia nuvens de dormir
fechava os olhos e repetia contos de princesas reais
dos tempos que navios carregaram canções
das poças de chuvas e lágrimas de guerra
ao final trazia biscoitos amanteigados
e um beijo de pesar:
nunca perca a oportunidade de um sorriso
pode ser a única coisa que levarás embora
ou a última que deixarás de ti
.

.das grandes decisões.

.
olhou pela janela por dias consecutivos
caminhava inconsciente pelas ruas do bairro
procurando um sorriso quase desconhecido
percebeu-se comprando pão para duas pessoas
então escolheu um ônibus amarelo e partiu sem rumo
pela última vez ouviria a voz malemolente da saudade

preferiu não ser mais encontrada
do que nunca deixar de esperar
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