.do ódio.

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eu me odeio
e me odeio apenas
por não poder te amar
.

.mar.

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hoje acordei mar

meio imensidão, meio infinito

sonhos platônicos de ocupar o horizonte
.

.a felicidade.

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das dores, as maiores, para mim, por favor
não ouso rasgar lágrimas por poucos grãos de areia
o vento destrói minhas dunas, mas não meu sorriso
só deixo meus olhos escorrerem montanhas
não permito pedrinhas bobas
faço das queixas, dilúvio
ou mantenho a ensolação
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.conquiste-me.

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Conta a velha lenda que a bela princesa guarani dançou, mais uma vez, na beira da cachoeira, por seu amor.

Ao som do vento, remexeu suas tatuagens de urucum e jenipapo delicadamente para a lua, até cansar seus pés.

Deitou-se na terra e o rio, que apaixonara-se pela delícia daquele balanço, levou-a para o fundo de seu leito, para vê-la,
também, à luz do sol.

Quando, enfim, a primavera voltou, trazendo as pétalas aveludadas aos gramados e a brisa pueril aos matagais, a lua entendeu o que era saudade.

Chorando estrelas, percebeu o amor por aqueles pequenos traços morenos e minguou, implorando às águas sua amada de volta.

As lágrimas incandescentes, no negro oceano, ecoaram a triste verdade que vinha de longe: já era, assim, tarde demais.
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.das perdas.

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eu perdi
perdi tempo por bobas constatações
perdi esperança pela sonhada sinceridade
perdi sangue pelas antigas amizades
perdi lágrimas por afiadas palavras
perdi amor por outro maior amor
enfim, perdi
como sempre perco
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