.fim de festa.

.
ela tentou negar
tentou esconder e camuflar com rosa choque
mas ele ficava por ali, rondado seu olhar

aquele ciúme estúpido, bobo
aquela vontade de sumir, ou de aparecer de repente
aquele apertinho no estômago constante

ela odiava aquela sensação insegurança de menina perdida
odiava ver todas as flores verde musgo
de dentro de uma camisa de força

era naquele momento que as luzes se acendiam
suas borboletas entravam num frenesi
e então paravam de dançar
.
.
eu chego e ela está ali.
ocupando minha cama, como se fosse um gigante.
esperando para ter suas roupas rasgadas, seus segredos descobertos, seu corpo violado.
espera por um toque suave também, um olhar atento e um abraço contra o peito.

mas isso não me importa muito.
faço de conta que não a vejo. ignorando-a, ignoro também meus medos, meus receios e minhas mais secretas paixões.

vou até a cozinha preparar algo para comer. bem devagar. canto uma música, duas, três. elas vão e vêm na minha cabeça. ocupando o lugar de conversas devaneiosas, diálogos solitários.

volto, fecho a porta e fico parada a observá-la.
seu jeito, sua brancura, seu olhar atento.
me pedindo, me implorando para eu devorá-la, para eu possuí-la até o último suspiro.

docemente, a pego e coloco-a mais perto de mim. fito sua face, seu rosto estampando meu nome.
cheiro seu cangote - ainda pode ter algum perfume ali.
rasgo sua roupa e deixo ela assim: nua, aberta.
depois de possuí-la duas, três quatro vezes, deixo-a de lado e como tranquilamente.
desvendado, seu corpo alvo, com machas percorrendo-lhe caminhos, ainda me chama. pego-a no colo, aperto-a contra meu peito.
durmo então, abraçada no único pedaço que tenho de ti.



a carta

|baú.05.04.04|

2z

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por enquanto estou aqui, quase sozinha, nesta sala fria de janelas abertas
o ar entra nos meus neurônios e não me deixa mais sentir sede
o sol bate das minhas costas me chamando para uma corrida
chegarei primeiro, com certeza, porque ele já está lá
atrás dos horizontes de pedra que o bicho criou

tomarei chimarrão na sua despedida com rapadura e pés descalços
nada de álcool, drogas nem roquenrol
nada de choros, abraços doloridos ou cartas enigmáticas
apenas um sorriso no estômago e a esperança nas mãos

um dia, quem sabe?, ele volta
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|baú.27.06.03|

mesa vazia

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estava sozinha naquela sala crua
tinha encomendado uma pizza de açafrão que sabia que nunca chegaria
mesmo assim, pedi suco de tomate e troco prá cinquenta
lancei gritos pelos corredores para espantar a luz
meus desejos haviam se atirado do 11º andar há 15 minutos
não cheguei a tempo na janela
realmente, precisava de ombreiras novas
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|baú.06.06.05|